domingo

Da Quaresma à Páscoa


4.º Domingo da Quaresma: Na alegria do espírito

Nosso Senhor dizia: “Quando jejuardes, não mostreis um ar tristonho” (Mt 6, 16). Talvez daí brote este detalhe interessante da Quaresma: a frequente advertência de que a alegria cristã deve acompanhar toda a nossa travessia quaresmal.
Com efeito, são muitas as orações ou coletas em que a Igreja pede para seus filhos “uma alegre penitência”, um “jejuar com alegria” e outras expressões semelhantes. É que a penitência cristã vai acompanhada da alegria do espírito que gera uma doce e tranquila confiança na misericórdia do Senhor. E a Quaresma cria uma dupla alegria: a alegria do dever cumprido, dedicando a Deus de modo especial este tempo quaresmal a Ele consagrado; e a alegria da esperançosa Páscoa que esperamos como triunfo da vida de Jesus e como vitória da graça divina sobre o mal que reside em nós. É certo que a Quaresma não deixa de ser “um sacrifício”; mas por ser “voluntário” e oferecido com amor generoso, torna-se “em santa e alegre devoção”. Aliás, sendo a Páscoa a fonte da alegria cristã, é natural que nos aproximemos dessa fonte com gozo e que percebamos já um gosto antecipado da mesma.
Assim sendo, o cartuxo não vive a sua Quaresma como “tempo de tristeza”, mas sim de alegria e esperança porque, como filho de Deus, coloca n’Ele a origem e a fonte de toda a sua felicidade. O Mistério de Cristo vivido na Quaresma não é algo que esteja fora de nós; ele é o que somos e estamos chamados a ser em Cristo. O Seu drama é o nosso. Nossa cruz não é senão a de Jesus e é o Seu amor quem a leva em nós. Nossa verdadeira vida é a do Ressuscitado em nós. Se a Liturgia quaresmal nos leva pelo caminho da Cruz, é para nos ensinar que esse caminho é também o nosso. Cristo tem vencido na Sua luta contra o pecado e a morte, e o poder vitorioso da Sua vida e do Seu amor é-nos comunicado na celebração sacramental do seu Mistério renovado na Liturgia. “Com a recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contacto com eles, se encham de graça” (Sacrosanctum Conclilium n. 102).
Temos razão em nos gloriarmos na Cruz de Cristo. O rosto exprime o gozo que vai no coração, e o ardor do coração penetra todo o homem e lhe comunica forças “para dar com alegria” a observância quaresmal: “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9.7). E assim se prepara o cartuxo para tomar parte na Ressurreição do seu Senhor. “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22. 20).

Sem comentários:

Enviar um comentário